Calendário acadêmico dita rotina e faturamento de bares
em regiões universitárias
Em quase toda cidade que abriga universidades, existe uma
cena típica: bares e restaurantes que se transformam em ponto de encontro para
estudantes, professores e toda a comunidade em torno da vida acadêmica. Esses
espaços vão muito além de um local para comer ou beber; tornam-se extensão da
própria experiência universitária, marcando a rotina e a memória afetiva de
gerações de jovens.
A volta às aulas, neste mês de agosto, reaquece esse
movimento em diversas regiões do Brasil. O início do semestre não traz apenas
salas de aula cheias, mas também mesas ocupadas em bares próximos aos campus, cardápios
pensados para grupos de estudantes e promoções que atraem aqueles que buscam
descontração depois de um dia de estudos.
O bar como extensão da vida universitária
A vida acadêmica é intensa. Provas, trabalhos, pesquisas e
estágios criam uma rotina que, muitas vezes, pede momentos de alívio e
socialização. É nesse contexto que os bares se tornam refúgio: locais para
relaxar, encontrar os amigos, discutir ideias e, muitas vezes, até fortalecer
redes de contatos profissionais.
A presença universitária também ajuda a moldar o perfil
desses estabelecimentos. Cardápios acessíveis, promoções em grupo e ambientes
descontraídos são marcas comuns. Se em bairros residenciais um bar pode apostar
em menus mais sofisticados ou experiências gastronômicas elaboradas, nas
regiões universitárias a regra é outra: preços justos, mesas coletivas e até
trilhas sonoras escolhidas pelos próprios clientes fazem parte do ambiente.
Além disso, a dinâmica do calendário acadêmico influencia
diretamente o funcionamento. No início do semestre, os bares recebem calorosos
de boas-vindas aos calouros. Durante os períodos de provas, o movimento pode
cair, mas logo volta a crescer após as semanas de tensão. E nos meses de
férias, a queda no fluxo é perceptível, especialmente nos estabelecimentos mais
próximos às universidades.
“No período das aulas o movimento é bem mais intenso,
principalmente no almoço. Já nas férias, percebemos uma queda significativa na
frequência, tanto de alunos quanto de professores”, afirma Luiz
Henrique, supervisor de Alimentos e Bebidas da Casa do Professor Visitante,
próximo à Unicamp.
Para os bares e restaurantes, estar ao lado de uma
instituição de ensino superior significa ter um público jovem, constante e com
hábitos próprios de consumo. Embora os estudantes não sejam, em geral, clientes
de alto tíquete médio, eles se compensam em volume e frequência. A ida ao bar
não é um evento ocasional, mas parte do cotidiano — um café antes da aula, um
almoço rápido entre turnos ou a cerveja no fim da tarde.
Além disso, as universidades atraem milhares de pessoas de
fora das cidades, movimentando a economia local em diversos setores, e a
alimentação fora do lar é um dos que mais se beneficiam. Isso é perceptível em
cidades médias e grandes de todas as regiões do país.
Rafael Cecato, presidente da Abrasel no Noroeste do Paraná,
explica que Maringá é um bom exemplo desse fenômeno. “Maringá é um polo
universitário, abriga uma das maiores universidades públicas do estado, a UEM
(Universidade Estadual de Maringá), além de particulares relevantes como a
Uningá e a Unicesumar. Quando acontecem vestibulares, há um aumento claro no
fluxo de bares e restaurantes. Muitos jovens vêm de fora e acabam movimentando
os estabelecimentos da cidade”, afirma.
Segundo Cecato, os bares mais próximos das faculdades sentem
diretamente essa oscilação. “Nas férias, o movimento cai; no início do
semestre, sobe. É uma dinâmica muito própria desse tipo de negócio”, diz. Ele
destaca ainda a importância dos eventos universitários, organizados
principalmente por atléticas, que chegam a lotar bares e restaurantes em
determinadas datas.
Datas marcantes e perspectivas futuras
Se a rotina já garante um fluxo constante, algumas datas são
especialmente marcadas para os bares que vivem da vida universitária. Festas de
calouros, finais de semestre, formaturas e vestibulares são momentos em que o
movimento se multiplica.
Eventos tradicionais de atléticas, como campeonatos e festas
temáticas, também têm forte impacto. Em algumas cidades, festas universitárias
chegam a se confundir com a identidade cultural local, criando até tradições
próprias.
Há ainda um aspecto importante: bares universitários
costumam formar clientelas fiéis. Muitos ex-estudantes, já formados, continuam
frequentando os mesmos espaços anos depois, carregando uma relação afetiva que
ultrapassa a fase acadêmica.
Embora cada cidade tenha suas particularidades — sejam bares
com cardápio mais sofisticado em regiões centrais ou botecos populares em
bairros universitários —, o fenômeno é nacional. Mais do que locais de consumo,
eles são espaços de convivência e identidade. A decoração, a música, o cardápio
e até as brincadeiras coletivas carregam a energia jovem e criativa do público
universitário.
Com a crescente diversificação da cena gastronômica e a
entrada de novas tecnologias, bares e restaurantes universitários também
começam a adotar recursos como cardápios digitais, promoções em aplicativos e
sistemas de delivery voltados ao público jovem. Ao mesmo tempo, mantêm sua
essência: preços acessíveis, informalidade e clima descontraído.
“Provavelmente o bar não teria o mesmo movimento se
não estivéssemos ao lado da Unicamp. O público acadêmico é o nosso alvo
principal e garante um fluxo constante”, completa Luiz Henrique.
Para o setor, a mensagem é clara: a vida universitária
continuará sendo um motor de movimento para bares e restaurantes no Brasil. E
cada semestre que começa é também uma nova oportunidade de renovar esse
encontro entre juventude, aprendizado e convivência.